Alejandro Jodorowsky viveu tantas vidas que um livro não bastaria para resumi-las todas. Chegando a Paris de seu país natal, o Chile, em 1953, foi sucessivamente marionetista, artista de circo, dramaturgo, diretor, poeta, romancista e ensaísta. Apaixonado por filosofia, psicanálise e esoterismo, acompanhou o movimento surrealista, depois fundou o grupo Panique com Arrabal e Topor. Criou igualmente o Cabaret Mystique, uma espécie de ágora moderna e itinerante onde se misturam zen, artes marciais, misticismo transcendental, psicanálise e tradição chilena. Apaixonado por imagens e pela escrita, é quase lógico que seu caminho cruzasse o das histórias em quadrinhos. Faz uma primeira incursão em 1966 (Anibal 5, produzida com Moro), mas é o encontro com Moebius, em 1975, que estimula de modo mais duradouro seu interesse pelos quadros e balões. Jodorowsky conhece o desenhista durante um projeto de adaptação cinematográfica de Duna, de Frank Herbert, que jamais veria a luz do dia. Paradoxalmente, da interrupção dessa criação nascerá uma obra única no gênero, que mistura ficção científica, esoterismo e simbolismo alquímico. O Incal irá por sua vez engendrar um universo que contribuiu para a era de ouro da Métal Hurlant, da (À Suivre) e da Humanoïdes Associés, e cujo sucesso iria consolidar definitivamente o lugar de Jodorowsky no panteão da nona arte.