François Boucq iniciou sua carreira como ilustrador editorial, fazendo caricaturas para revistas renomadas como Le Point, L’Expansion ou Privé, mas foi nos quadrinhos que ele realmente explodiu. De sua experiência prévia, traz um gosto acentuado por rostos expressivos e pelo desenho detalhado, aprimorado por um senso incomum de enquadramento e encenação. Torna-se conhecido por suas histórias de humor, nas quais o absurdo frequentemente concorre com a paródia. Cria o personagem Jérôme Moucherot, um agente de seguros diferente dos demais, que percorre a selva da existência em trajes de leopardo. Dotado de uma capacidade incomum de trabalho (já aconteceu de desenhar até duas pranchas por dia, sem jamais abrir mão da qualidade que construiu sua reputação), François Boucq renuncia de bom grado ao humor para se dedicar a narrativas mais realistas. Adapta assim o romancista americano Jerome Charyn (Boca do Diabo, A Mulher do Mágico, Little Tulip), cria Cara de Lua na revista (À Suivre) com Alejandro Jodorowsky – com quem em seguida desbravaria o Velho Oeste nas páginas de Bouncer – e explora o serviço secreto do Vaticano com Yves Sente (Le Janitor). Herdeiro de Franquin e Moebius, Boucq abriu portas no desenho realista. Ao longo dos anos, sua síntese de caricatura e rigor, legibilidade e precisão do desenho, originou um estilo único, que lhe permite dar vida a qualquer gênero de narrativa com o mesmo brio.